ULEPICC Brasil lança obra sobre os “Desafios das Políticas de Comunicação”
Por Eula D.T.Cabral – organizadora da obra “Desafios das Políticas de Comunicação”
Como falar sobre políticas de comunicação em um período tão conturbado politicamente e economicamente no Brasil? Ainda é possível falar em democracia no século XXI? Como trabalhar em prol dos direitos e deveres dos cidadãos? Como lutar por uma comunicação justa e cidadã para todos? Como fazer valer a importância e a necessidade de se ter veículos midiáticos em cada comunidade, dando a possibilidade ao morador de falar sobre sua realidade, anunciar seus produtos e buscar soluções para os problemas locais?
As investigações científicas que vêm sendo desenvolvidas nas instituições de pesquisa analisam a realidade dos locais, das populações, as questões sociais, políticas, econômicas, tecnológicas e culturais, verificando os problemas e as prováveis soluções a partir das necessidades cotidianas e das pesquisas realizadas. O foco não é apenas criar ou testar teorias, mas mostrar como a ciência pode ajudar a sociedade.
Na obra “Desafios das Políticas de Comunicação” são mostradas e analisadas as realidades que vêm acontecendo nos últimos anos na América Latina a partir de pesquisas científicas que têm como base os estudos na área de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura e como foco as políticas de comunicação.
Pesquisas que foram apresentadas no Grupo de Trabalho (GT) “Políticas de Comunicação” do VII Encontro ULEPICC-Brasil, realizado em 2018 em Maceió (AL). Evento que reuniu pesquisadores de várias partes do Brasil com o intuito de entender como as investigações científicas realizadas na área vêm analisando as realidades latinas e como aproximar a sociedade dos estudos acadêmicos, entendendo seus direitos em relação à comunicação, à informação e à cultura.
O livro é dividido conforme as mesas feitas no evento e a ordem de apresentação das pesquisas. São quatro partes com 12 artigos, de 19 pesquisadores, que analisam desde experiências locais até as legislações e suas regulamentações nos países da América Latina, como é o caso de Brasil e Argentina.
Na primeira parte do livro, “Políticas de Comunicação na América Latina”, são apresentadas duas pesquisas fundamentais sobre a realidade latino-americana. “A regulamentação da comunicação pública nas mudanças de governo no Brasil e na Argentina”, de Anderson Andreata e Adilson Vaz Cabral Filho, analisa como as políticas de comunicação resistem nos dois países e se as relações de poder atuam ou não como moeda de troca em função de jogos de interesse político. “Regulamentação democrática da radiodifusão comunitária”, de Adilson Vaz Cabral Filho, verifica como as demandas de resistência da radiodifusão comunitária podem ser articuladas e renovadas, propondo-se uma plataforma de mobilização para a regulamentação do setor, sendo capaz de promover a sustentabilidade das emissoras de rádio e TV comunitária.
Na segunda parte, “Mídia e Governo Lula”, são disponibilizadas aos leitores três pesquisas que fazem relação entre mídia, política e a imagem do ex-Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que presidiu o país no período de 2003 a 2010. “Políticas e estratégias de comunicação: experiências de comunicação pública na presidência de Luiz Inácio Lula da Silva”, de Ana Paula Lucena, analisa se os princípios da comunicação pública foram inseridos ou não no plano de comunicação da Secretaria de Comunicação da Presidência durante o governo Lula. “A prisão de Lula nas capas e editoriais da Folha de S. Paulo”, de Ana Maria da Conceição Veloso, Fabíola Mendonça de Vasconcelos e Laís Cristine Ferreira Cardoso, mostra como foi feita a cobertura do jornal em relação à prisão do ex-presidente, ocorrida no dia 7 de abril de 2018, o período que antecedeu o julgamento do Habeas Corpus pelo Supremo Tribunal Federal até uma semana após a prisão do ex-presidente. “Os interesses da imprensa e da justiça se encontram na Lava Jato: O caso O Globo e a sentença do tríplex”, de Rosangela Fernandes, verifica como o jornal registrou a condenação do ex-presidente e sua influência no impedimento, em 2018, de sua candidatura à Presidência da República e como o juiz do caso, Sérgio Moro, se tornou ministro da Justiça do candidato eleito.
Na terceira parte do livro, “Mídia e sociedade civil”, são mostradas cinco experiências que envolvem a população brasileira e vêm sendo trabalhadas pelos pesquisadores em suas instituições. “Direito à comunicação e democracia: breve aproximação da agenda brasileira”, de Priscila Martins Dionízio, reflete sobre os conceitos de problema e agenda, analisando os momentos em que a economia política das comunicações ocupou a agenda pública brasileira, a partir da reivindicação do direito a comunicar. “Regulação da mídia: um estudo da classificação indicativa”, de Rafaela Caetano Pinto e Maria Ivete Trevisan Fossá, examina os interesses privados e públicos relacionados à classificação indicativa, levando em consideração a regulação da mídia, por meio das políticas públicas de comunicação, para a democratização da informação.
O terceiro artigo de “Mídia e sociedade civil” é “O diálogo externo do Supremo Tribunal Federal: as deliberações da Corte acerca das políticas públicas de comunicação”, de Carlo José Napolitano, que verifica o cenário brasileiro e apresenta as contribuições teóricas, nacionais e estrangeiras, sobre as relações do STF com a opinião pública brasileira. “Políticas de comunicação e de cultura acessíveis à sociedade: O projeto EPCC", de Eula Dantas Taveira Cabral, mostra a importância e o desafio das políticas de comunicação e de cultura serem acessíveis à sociedade brasileira, partindo da análise do projeto Economia Política da Comunicação e da Cultura (EPCC) que vem sendo desenvolvido na Fundação Casa de Rui Barbosa. “Publicidade de utilidade pública (PUP): um viés concreto de engajamento político da publicidade social, numa perspectiva brasileira”, de Patrícia Saldanha e Pablo Bastos, analisa a possibilidade contra-hegemônica da comunicação publicitária na atualidade.
A última parte do livro é “Desafios da regulação no Brasil” e apresenta duas pesquisas feitas por pesquisadores do Sudeste e do Nordeste. “A luta do jornalismo entre a independência e o interesse dos financiadores”, de Patrícia Maurício e Creso Soares Júnior, verifica a situação do financiamento do jornalismo privado e como o jornalismo de qualidade pode sobreviver no Brasil. Já “Os desafios para regulação do VOD no Brasil: legislação, concorrência e perspectivas”, de Maria Clara Estrêla Oliveira Almeida, Jacqueline Lima Dourado e Juliana Fernandes Teixeira, examina as atuais formas econômicas e tecnológicas da TV no Brasil, destacando o Vídeo Sob Demanda e os seus desafios diante da legislação nacional e do mercado brasileiro.
Vale a pena ler e conhecer cada pesquisa!
O livro é editado pela ULEPICC Brasil e está disponível no site da entidade científica e no site do projeto EPCC