Crônicas do cotidiano: “A CPI da COVID é Pop, é Tech e Política”.

Nenhum brasileiro ignora o que está acontecendo no Senado da República. Como uma das casas do Congresso Nacional, suas atribuições estão expressas na Constituição e, uma delas, entre as mais significativas, é a prerrogativa de investigar por Comissão Parlamentar de Inquérito o Poder Executivo e o vem fazendo, até agora, com propriedade, mas, para o grande público, tudo parece estranho, pouco técnico e político demais. Poderíamos usar o termo Pop, apenas, como popular. Por aglutinação de significados, vamos além. De tão usado no mundo, nos pertence também, pela grandeza, pelo poder que inspira quando falamos de cultura popular sem tocar na palavra folclore, clássica para designar a cultura do povo. Pop lembra o uso de símbolos da cultura de massa que assumem usos diversos para construir outros significados mais relevantes, mais expressivos dos sentimentos de um grupo, de uma tribo urbana, quer seja nas artes, quer seja nos comportamentos próprios da cultura de rua. Na Música Pop, “Dona de Mim”, a Cantora Iza, nos traz esse belo refrão: “Porque a vida é louca, mano, a vida é louca...”. Refrão que está na boca dos jovens e, para os mais velhos, basta ir ao Google. A letra é uma síntese e, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre o momento tóxico que vivemos, “porque a vida é louca, mano” e está exposta, também, na Comissão Parlamentar de Inquérito, que se desenrola no Senado em longas seções. Tem de tudo! Confunde-se Oscar com o Prêmio Cômico “Framboesa de Ouro”, dado aos piores artistas; a estatística é fraudada para justificar a cloroquina; “metanálise” vira o método da “psicologia do confronto”, usado pela “psicóloga” criada pelo escritor, teatrólogo e ator Miguel Falabella para o seriado “Toma Lá, Dá Cá”. Mas, se alguém ousar dizer que esse é o Senado que temos, não acredite! Por trás de tudo isso há uma racionalidade e, para percebê-la, é preciso afastar a cortina. O termo “Tech”, usado pela Rede Globo associado ao agronegócio, germinou como erva daninha e vai desde o grão do milho à “startup”. A palavra inglesa também é uma abreviatura e aglutinação de significados; descreve tanto uma área de trabalho, um sistema simples ou complexo, aberto ou fechado, que abriga tecnologia ou procedimentos técnicos. Mas, um membro da CPI, insiste, todos os dias, em dizer que a Comissão foi desvirtuada por deixar de ser técnica para ser política. O tal Senador da República reclama das aparências, nada mais. O cofre que foi apresentado aos Senadores para guardar os documentos sigilosos recebido pela CPI é a comprovação de que todo o árduo trabalho técnico de analistas para elucidar as falcatruas licitatórias e os segredos proferidos em reuniões fechadas das searas do poder, segredos bancários e telefônicos de investigados, em parte, é desnecessário. O relator descobriu que grande parte de papéis e “gigabytes” “sigilosos”, guardados no cofre, são de domínio público. Visava-se somente obrigar Senadores e Assessores a perderem tempo, uma manobra de ação do poder paralelo. O “mentirômetro” estava instalado sob o manto da tecnicidade. “A vida é louca, mano” e nem tudo que parece tech é sério, é verdadeiro e representa a racionalidade. Santo Agostinho, na sua obra “Mestre” lembra: “se a alma alguma vez se engana não é defeito da Verdade consultada, do mesmo modo que não é por defeito desta luz exterior que os olhos corporais por vezes se enganam” (389 d. D). Isso serve para entendermos a Política, sobretudo quando “a separação entre política e poder é letal para o estado moderno – em especial se for um Estado democrático, cuja Constituição prometeu aos cidadãos deixá-los tomar parte nas decisões comuns, que agora são tomadas por órgãos não democraticamente designados nem controlados a partir de baixo” (Bauman e Bordoni, in “Estado de Crise”, p.43).

Autor: Dr.Walmir de Albuquerque Barbosa - Jornalista Profissional. Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas. Manaus (AM), 11/06/2021.