Crônicas do cotidiano: “Celebração à Comunicação Social”.
As efemérides estão cercadas de simbolismos para os quais nem sempre atentamos. As Religiões Cristãs celebram a Comunicação Social na data do 16 de maio e a relacionam com a proximidade do dia de Pentecostes (este ano comemorado dia 21 de maio), isto é, a festa da liturgia cristã que marca a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos de Cristo e confere a eles o poder sagrado de comunicar a palavra a todos, mesmo aos não Judeus, e daí o dom de falar em várias línguas. Mas não é só isso: possuídos pelo poder divino, abrem as portas do Cenáculo, e não têm mais medo de enfrentar as consequências de um discurso que prega amor ao próximo, a justiça social e a crença no Crucificado, o que incitava ódio nos poderosos de plantão. Isso não é pouco e viria a ser um dilema para o mundo da época e de hoje, às voltas com a liberdade de pensamento e de expressão e com as manipulações dos discursos, sejam eles de qualquer natureza. No dia 17 de maio, comemora-se a versão pagã, o “Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade da Informação”, instituído pela ONU, lembrando os idos de 1865, quando foi criada a União Telegráfica Internacional (UTI), que estabeleceu um conjunto de normas para regular o uso internacional do Telégrafo, um dos marcos da globalização, com a grife da tecnologia, do eurocentrismo, do capitalismo e da ideologia liberal, que prega o poder dos mercados. Antes deles e no interregno dos dois acontecimentos a Comunicação Social foi objeto de muito estudo e experimentações. Os Judeus, a caminho da Terra Prometida negam a representação deística por imagem e objeto de adoração, mas consagram a força da palavra na Torá. Aristóteles, ao estudar a retórica, fortalece o modo de discussão política no exercício da democracia Grega. Santo Agostinho (364d.C.- 430d.D), Doutor da Igreja, retoma o pensamento aristotélico, contribui para o estudo dos signos na interpretação dos textos sagrados. A Igreja Reformada dissemina a Bíblia valendo-se da Imprensa como tecnologia contemporânea; expande a alfabetização e o conhecimento do sagrado nas línguas vernáculas; consagra a livre interpretação dos textos para dialogar direto com a divindade; forja uma mentalidade não só religiosa mas, também, social para os tempos modernos; com a doutrina do livre arbítrio, abre caminhos para a aceitação das ciências nascentes, que dessacralizarão o mundo físico e natural, por meio do discurso lógico-matemático, a Mathesis Universalis. Coube ao século XIX, na plena vigência do discurso Iluminista, da evolução da Ciência e da Tecnologia, a junção dos elementos de contemporaneidade a nos permitirem aceitar a libertação dos dogmas e conceber o mundo físico e social - a segunda natureza, como um discurso não apenas matemático, mas retórico, dialético e pleno de significados, que permite leituras diferenciadas, de acordo com as ideologias vigentes, que se confrontam, conforme as estruturas de poder que ajudam a construir para garantir o pensamento crítico. Essa tarefa envolveu filósofos, linguistas, sociólogos e tantos outros, além de físicos, engenheiros e inventores.
Como espelho do mundo, como multiplicidade discursiva, como forma de pensamento e de ação social, política, econômica e ideológica, a comunicação social se apresenta ao mundo contemporâneo na sua forma institucionalizada como Meios de Comunicação, além das suas funções nas práticas cotidianas. Tudo pode ser visto, ouvido, partilhado, real ou virtualmente, passando pelos filtros institucionalizados de modelos tecnológicos em uso, e por aqueles interpretativos das subjetividades dos sujeitos, dos grupos sociais, das tribos e dos grupos de interesse. Portanto, sem liberdade de pensamento e de expressão não é possível a Comunicação Social. Alimentada por direitos inerentes à liberdade humana, ela deve nos livrar das marchas do pensamento único, perigosas por nos levarem ao fundo dos porões, ao seio das cavernas, aos submundos do ódio e do crime, dos quais lutamos muito para deles nos distanciar. Autor: Dr. Walmir de Albuquerque Barbosa - Jornalista Profissional. Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas. Manaus (AM), 21/05/2021.
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