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Walmir de Albuquerque Barbosa

Crônicas do cotidiano: O upgrade do bico de pena e do curral eleitoral

Não adianta fingir, fazer-se de ouvidos moucos, passar ao largo dos acontecimentos, fazer de conta que é um “isentão”. No dia 30 de outubro de 2022, voltamos às urnas, todos! É chegada a hora do povo brasileiro acertar as contas com sua história! Ou monta na garoupa da moto de um “camisa preta” ou pega o rastro de uma estrela que agregou muitos astros em sua caminhada. Isso parece um exagero, mas me explico: “nunca na história desse país” tivemos tantos sinais da nossa podrura interior; dos nossos mais sórdidos sentimentos, daqueles que, quando despertados, podem até nos levar para os “Bangus da vida” ou mesmo para o mais fétido e próximo cárcere; ou à morte, praticada por ditos “cidadãos de bem”, armados até os dentes, graças aos decretos que facilitaram o acesso às armas e dificultaram seu rastreamento e controle, diplomas legais úteis para amigos da corte e aqueles aptos a seguir o ideário fascista de formar milícias para tomar de assalto as instituições do estado e destruir a democracia. Faltava-nos a contra face cristalina na convivência pacífica que mantivemos com essa realidade, fingindo que tínhamos alcançado a civilização e que na Democracia é assim mesmo. Não! Agora sabemos que não! A barbárie estava escondida por baixo e veio à tona nesses últimos anos. Está entronizada nos altares de famílias ricas da “tal elite brasileira”, nos olhos cabisbaixos dos rebutalhos das ditaduras e das vivandeiras de quartéis, que continuam a nos espreitar com suas fichas na mão, embora não tenham um “DOPS da vida”, onde possam entregá-las; nas “Fogueiras da Salvação” e nas “Teologias da Prosperidade”, que empolgam os insensatos e “os empreendedores”, “novos-ricos”, agregados em torno de um “deus” feito só para eles; na carolice, chefiada por “padres reacionários”, herdeiros da antigaTFP, para os quais ainda vivemos os tempos do “comunismo” e da “perversão” de Sodoma e Gomorra, igualando-se, assim, aos “pastores negocistas da fé”, que coagem seus fiéis a seguir suas orientações políticas escusas. Nos atos falhos dos “velhos babões”, que ainda precisam sentir que “pintou um clima” para pôr em prática instintos pedófilos ancestrais. Parece desnecessário, todavia tenho que dizer que as aspas servem de carapuça e que, para tudo, há exceções. E, por fim, sem esgotar o repertório dos protagonistas dessa angústia, registro os modernos Senhores de Engenho, novéis Coronéis da Guarda Nacional e Capitães da Indústria, de quem desejava falar, desde o início, mas com perdão da confissão, empolguei-me e perdi-me no cipoal de maldades que se nos apresentam no “espelho cristalino” do cotidiano. Eles vivem e agem!


Fantasiados de papagaio, de carcará ou galinha choca nas mídias sociais, por baixo suas vestes são de seda fina, estão nos salões da corte exibindo suas grifes ou altos coturnos engraxados por subalternos. Estão nas bolsas de valores e na presidência de federações disso e daquilo. Todos querem “Tetos de Gasto” para inviabilizar qualquer tentativa de política pública que melhore as condições de vida dos que estão na miséria ou na faixa de pobreza extrema; querem sempre um estado mais mínimo do que já conseguiram; querem todas as reformas que tirem direito dos trabalhadores, aposentados e pensionistas; querem mais isenção de impostos para seus negócios com desregulamentações ridículas que põem em perigo a saúde dos consumidores, o meio ambiente e os direitos dos povos originários e tradicionais; querem escolher os juízes que julgarão possíveis falcatruas e desejam amordaçar a imprensa livre pela seletividade dos investimentos em marketing de suas empresas. É por causa disso que estão coagindo os empregados, tal qual “padres reacionários”, “pastores interesseiros” e “amantes do autoritarismo”, esperando, com isso, garantir, cada segmento, o seu quinhão e sua perpetuidade no comando das rédeas do poder.


As denúncias feitas ao Ministério Público do Trabalho de que empresários urbanos e rurais estão assediando seus empregados, pressionando-os a votar em seus candidatos, ressuscita as práticas deletérias da República Velha do “voto de cabresto”, feito a “bico de pena” por um mesário, elegendo os “barões da república” ou seus prepostos. É preciso reagir e nossa arma não é a granada e o fuzil, é o voto!

Autor: Dr. Walmir de Albuquerque Barbosa Jornalista Profissional. Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas. Manaus (AM), 28/10/2022. *Toda sexta-feira publica no site EPCC suas Crônicas do cotidiano. Confira na obra "Trajetórias culturais e arranjos midiáticos" (2021) seu capítulo "Comunicação, Cultura e Informação: um certo curso de jornalismo e vozes caladas na Amazônia".


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