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  • Walmir de Albuquerque Barbosa

Crônicas do cotidiano: “Por favor, onde fica o campo de guerra?”

O mundo está cheio de acontecimentos monstruosos. Sabe-se, apenas, que não são mais naturais. Mesmo quando ocorrem na forma de ciclones, tufões, tsunamis, avalanches, enchentes ou incêndios, os culpados logo aparecem: coletivos internacionais da ganância, políticos e empresários corruptos que adoram os “decretos de calamidade pública”, negacionistas que elegem governos desinteressados nos dilemas humanos, grileiros que derrubam e tocam fogo nas florestas; comerciantes de esquinas, que insistem em embalar tudo em sacolas de plástico, que vão parar no ventre das baleias; eu e você, que nem sempre separamos corretamente o lixo caseiro na classificação adequada, para evitar os lixões a céu aberto, nas cidades grandes ou pequenas.


Essa classe de monstruosidades é jogada no campo de batalhas da questão ambiental e mobiliza ONGs, agências de viagens e um vasto campo das ciências. As provas colhidas apontam para os humanos: os “desviados pelo mercado” para o consumo desbragado, que aumenta o PIB dos países industrializados, concentra renda nas mãos dos poderosos, os mesmos que disputam, todos os anos, individualmente, a lista dos mais ricos da Revista Forbes.


Resolvidos tais problemas com um cavalo de pau civilizatório, as águas escorreriam límpidas nos rios; as tardes seriam mais amenas; os poetas contariam estrelas no céu despoluído e os apaixonados veriam a lua despidamente linda na sua “claridez”. Os frutos da terra teriam menos agrotóxicos e a ANVISA, menos trabalho para aprová-los de supetão; e os fiscais voltariam para casa com os talões de multa em branco, pois não encontrariam os “golpistas da fruta” nas feiras e mercados; e até a mortadela do “sanduba” seria mais honesta, suculenta e saborosa.


Os humanos possuem muitos defeitos. Talvez, por essa razão, muitos de nós os trocamos por pets. Até o Papa Francisco chamou a atenção para essa tendência, e teve gente que não gostou! Nossos defeitos não são defeitos de fábrica, acho também que não são genéticos, porque nasce muita gente boa e, por incrível que pareça, muitos chegam até a ocupar cargos políticos, quando adultos. Eu mesmo conheci uma família, cujos filhos todos viraram políticos: o pai, homem trabalhador e pacato, mas dotado de arroubos ideológicos justos; a mãe, uma senhora culta e de muito repeito; todos os anos faziam um filho, cerca de seis ou sete ao todo. Em diversos governos, exerceram cargo públicos relevantes de secretário de estado, felizmente competentes e do bem. Isto é raridade, precisão, se não um milagre, mas aconteceu!


Os monstros, a quem quero referir-me, devem ser um capricho da estatística universal, incidente sobre os humanos de todos os tempos da história, em todos os continentes, em países diferentes. Uns gostam de matar criancinhas; outros de cavalos e até os nomeiam senadores; há “baixinhos invocados”, de chapéu de bico atravessado, destroçadores de fronteiras internacionais; os “meio bigodinho preto”; os que gostam de leite condensado com farofa; outros, adoradores de mesas grandes para distanciar-se de adversários e posar de imperador de todas as repúblicas. Apesar das diferenças caricaturais, todos farejam a morte: adoram as guerras, as tiranias, a tortura de adversários, as contaminações viróticas e o poder desmedido. Preferem o “bem-bom” dos palácios ou “tendas de campanha” e divertem-se com seus campos de batalha, verdadeiros ou virtuais, enquanto outros lutam e morrem por eles, por suas ideias e insanidades.


Por tudo isso e mais, prefiro terminar com Niall Ferguson (Civilização, p. 376, 2012): “hoje...a maior ameaça à civilização ocidental vem não de outras civilizações, e sim de nossa própria pusilanimidade – e da ignorância histórica que a alimenta”.


Autor: Dr. Walmir de Albuquerque Barbosa

Jornalista Profissional. Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas.

Manaus (AM), 25/2/2022. *Toda sexta-feira publica no site EPCC suas Crônicas do cotidiano. Confira na obra" Trajetórias culturais e arranjos midiáticos" (2021) seu capítulo "Comunicação, Cultura e Informação: um certo curso de jornalismo e vozes caladas na Amazônia". Veja, também, sua entrevista no Programa Comunicação em Movimento 09 do grupo de pesquisa EMERGE- https://www.youtube.com/watch?v=kpu-HtV6Jws




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