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  • Walmir de Albuquerque Barbosa

Crônicas do cotidiano: “Tudo junto e misturado”.

Em tempos de “Pegasus”, software de espionagem da empresa israelense NSO Group, das brigas diplomáticas entre EUA, Rússia, China e, agora, Israel revelando o bigsistema de cibersegurança mundial, a guerra fria muda de nome, de forma e de práticas, sempre deletérias. Os hackers, que sequestram empresas e pessoas via apagamento de seus serviços informatizados ou extorsões, viram “ladrõezinhos pé-de- chinelo”. Mas, esse é o espaço das supertecnologias que se entrelaçam aos interesses econômicos, político-ideológicos e militares e habitam as superestruturas da governança mundial. “Aqui embaixo as leis são diferentes”, lembrando o “Zé Ninguém”, canção de “Biquini Cavadão”, um primor de letra, de música e de síntese da nossa distopia.

Basta abrir o noticiário, via smartphone, e deparar-se com a figura do Presidente da República em cima de uma cama imitando a “Lamentação sobre o Cristo Morto”, pintado por Andrea Mantegna (1431-1506) e banalizada por um marqueteiro chinfrim com o fito de melhorar escores nas pesquisas eleitorais do candidato. Rodando a notícia na tela, vem à tona os bastidores de mais uma das peripécias de golpe intentado pelos generais e abortado pelas reiteradas forças ocultas e explícitas, que todos os dias precisam lembrar aos interessados de plantão que temos uma Constituição em vigor; que nela não está escrito que existe um poder moderador no Brasil; que o mundo mudou, o “Lincon Gordon” não é mais embaixador e o Biden não mandará uma esquadra de guerra para garantir “a democracia”, a “família”, a “propriedade” e os “delírios” de golpistas ou de lunáticos religiosos.

Correndo à lista das obras mais vendidas da semana, deparo-me com “1984” de George Orwell, o que expressa, diante de tantos acontecimentos dissonantes, o pânico generalizado. Ao mesmo tempo, a leve esperança de um acordar para a realidade se materializa na TV, alta madrugada: o bailado sutil da “Fadinha do Skate”, Rayssa Leal, vinda de Imperatriz (MA) para subir no pódio de Tóquio, provando que a terra gira e os “terraplanistas” escorregam pelas bordas. Mas os relutantes “revolucionários”, olhando por baixo do lençol, teimam em dizer que isto é alienação.

Recolhido ao meu mundo, durmo o sono merecido e acordo sentindo o cheiro das queimadas de julho na nossa Amazônia; o que era ritual de preparação da terra virou instrumento criminoso nas mãos de grileiros e política pública de desgoverno. Cabisbaixo e bisonho nessa confusão de acontecimentos, procuro alento nos meus livrinhos de bolso, mais fáceis e rápidos de ler em tais circunstâncias. Lá encontro “Como se faz Análise de Conjuntura, de Herbert José de Souza, o Betinho, irmão do Henfil, que está na música cantada por Elis Regina. E, logo nas primeiras páginas, está escrito: “a análise de conjuntura é uma mistura de conhecimento e descoberta, é uma leitura especial da realidade e que se faz sempre em função de alguma necessidade ou interesse”(p.8). Na página seguinte, informa que as ferramentas com as quais se trabalha são: acontecimentos, cenários, atores, relação de forças, articulação (relação) entre “estrutura” e “conjuntura”. Confesso que não sabia mais se continuava a ler ou se prestava mais atenção ao filme que passava na minha cabeça, lembrando tudo que esse livrinho já causou; tão necessário foi e quanta falta faz aos que continuam correndo atrás de “ídolos com pés de barro”, mas sem saber o que fazem e por quem fazem. Estranho mudo!

E a maior coincidência estava por vir: antes de recolocar o livrinho do Betinho na prateleira, revi a ficha catalográfica e nela constato a revelação profética de todas essas necessidades que nos levam a precisar novamente desse grande ser humano que foi: 1984, ano de publicação da primeira edição dessa obra-prima minimalista, editada pela Vozes. Autor: Dr.Walmir de Albuquerque Barbosa - Jornalista Profissional. Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas. Manaus (AM), 30/7/2021.

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