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Walmir de Albuquerque Barbosa

Crônicas do cotidiano: “Vozes da caverna e os Meios de Comunicação no Brasil”.

Até a consolidação do Império (com a maioridade de Dom Pedro II), a imprensa brasileira é oficial ou oficiosa, mas indico Nelson Werneck Sodré, Marialva Barbosa e Jordana Coutinho Caliri, que trabalham com a história social da imprensa, para o aprofundamento no assunto. Deles retiro, no entanto, a constatação de que, já no II Império, a imprensa participa na difusão e até induz às lutas políticas pelo poder, com os jornais autorais ou de organizações privadas civis partidárias de causas sociais e de ideologias políticas, tais como a Abolição da Escravidão e o Republicanismo, espalhadas por todo o país. Os que defendiam, na imprensa, o Escravismo e o Conservadorismo Monárquico, perdidas as suas causas, unem-se aos demais em defesa do “embranquecimento da raça”, através da vinda de imigrantes brancos europeus, tendo como fundamento o “eugenismo”; o “lombrosionismo”, adotado como antropologia criminal, para orientar as páginas policiais dando-lhes conotação científica factual; e do “higienismo”, que fortalecia ideais civilizatórios e de progresso daquela época, mas negligenciando na defesa do afastamento dos pobres das áreas a serem saneadas para os “cafundós do Judas”. O contraponto, nesse período, é o surgimento da imprensa operária, muito afeita às ideias socialistas e anarquistas, que sobrevive na clandestinidade. A imprensa do Norte aparece envolvida nessas mesmas temáticas, dando maior destaque para a Questão Abolicionista e a Questão Republicana, com a fundação do Clube Republicano. Quanto à imigração, foi mais pragmática: a região foi sempre aberta a imigrantes de todas as partes do Brasil e do mundo; recebeu os nordestinos em maior quantidade; europeus de todos os naipes; os deserdados do oriente médio perseguidos pelo Império Otomano; abrigou as colônias de asiáticos; além da comunidade judaica, que se espalhou por toda a Amazônia até Iquitos, no Peru.


O jornalismo, que está se institucionalizando como iniciativa privada no final do século XIX e perdura até 1930, aspira a condição de paladino da verdade e condutor da opinião pública em todo o Brasil, sem se apartar dos favores do poder político nas mãos das oligarquias. A opinião pública, colada à liberdade de imprensa e de opinião é excludente no Brasil, pois não dá a mesma ênfase à opinião dos cidadãos que considera de “segunda categoria”, paridos pelas nossas desigualdades sociais. E, por não colocar-se contra isso como causa, a imprensa passa a ser, também, conivente.


O Estado Novo não trouxe alento para a liberdade de expressão, mas moldou as novas oligarquias. Se faz presente oferecendo as concessões de rádio a seus aliados, financiamentos e isenções de impostos e facilitando a formação das redes nacionais de amigos do poder. O breve interregno da restauração democrática foi sufocado pela Ditadura Militar de 64, com as mesmas práticas, em maiores proporções e comprometimentos que chegam a nossos dias, no rádio e na TV. O que assistimos nesses tempos pós-modernos é o eco dessas vozes das cavernas, fruto das partilhas oligárquicas combinadas, que estão em dificuldade para articular-se com as novas tecnologias e os novos atores que dispensam as concessões políticas para operar com exclusividade os meios de comunicação. A solução encontrada, tanto pelo poder estatal quanto pelas oligarquias, para impedir o desmonte completo dos pactos firmados, é a procrastinação, dentre outros, da implantação do “5G”, da construção das infovias e da regulamentação mais arejada, que evite a concentração de poder nas mãos do capital e respeite o que está na Constituição quanto à criatividade, à liberdade de pensamento e de expressão, além do respeito aos demais direitos fundamentais. Autor: Dr.Walmir de Albuquerque Barbosa - Jornalista Profissional. Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas. Manaus (AM), 18/06/2021.



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