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  • Walmir de Albuquerque Barbosa

Crônicas do cotidiano: “É mentira, Terta?”

Os mais velhos lembram-se muito bem de Pantaleão e Terta, personagens criados por Chico Anísio. Ele, um mentiroso contumaz que, sentado em uma cadeira de embalo no alpendre da casa, ao lado de Terta, contava as mais hilariantes lorotas, sempre confirmadas como verdade pela esposa. Assim tem procedido a nossa grande imprensa, representada pelos grandes jornais e TVs abertas e por assinatura, a mídia. O tal mercado inventa as suas lorotas e os comentaristas econômicos, às vezes ingênuos ou não, assistidos por operadores do sistema financeiro, como a Terta do Pantaleão, confirmam. Nada de novo, desde os tempos imemoriais, quando a Bolsa de Valores era operada analogicamente da sala dos pregões, numa algaravia de doer os ouvidos. E conta-se, no folclore da Ciranda Financeira, que, em um certo dia de “Baixa” na Bolsa, um operador, sorrateiramente, colocou um ovo em processo de eclosão no meio do Hall Monumental da Vetusta Bolsa de Valores. Um pintinho amarelo eclodiu das cascas e ainda fez cocô no meio do salão. A notícia fantástica chegou até aos pregoeiros, que a interpretaram como bom presságio: um pinto nascendo na sala de honra da bolsa era um sinal de que as commodities vindas do campo teriam bons resultados! Daí a virada, a bolsa fechou em alta. “É mentira, Terta? Verdade, Pantaleão!" O juro só vai baixar (diz essa gente) quando o governo der garantias de que não será gastador, que a economia vai ter os mesmos fundamentos do governo anterior, rumo a um “Posto Ypiranga Imaginário”, que têm um retrovisor comprado na Universidade de Chicago e que, de tanto uso, já afundou o Chile uma vez, já afundou o mundo nas “bolhas imobiliárias” e nas transferências inusitadas para paraísos fiscais; e, também, enriqueceu uma larga lista de ricos da Forbes nas últimas décadas, inclusive aqueles senhores das Lojas Americanas. Acontece, caros amigos, que o projeto econômico vencedor nas últimas eleições no Brasil foi outro. Os dois milhões de votos a mais, acrescidos aos do primeiro turno, foram sim de centro-direita, mas na proporção quântica merecida, as propostas honestas desse grupo foram incorporadas. As outras perderam. Cabe ao mercado, cabe aos economistas, cabe aos operadores, cabe aos jornalistas entenderem que a realidade é outra, senão mudamos o governo para que tudo que fique igual como antes. A Ciência Econômica não é uma Ciência Exata, assim como as Chamadas Ciências Exatas, desde Albert Einstein e Ilya Prigogini não o são mais, como nunca foram. E também, não existe tecnologia isenta. Tudo, em nosso mundo, é permeado por ideologias, inclusive as aplicações das técnicas. Num novo cenário de construção social, é possível para todos, até para os perdedores, analisar as variáveis da nova situação e perscrutar as novas perspectivas e atuar em direção de preservação de seus ativos ou perseguir novas formas de ganho. Essa “estória” de falta de garantias para o investidor é coisa de Pantaleão. Os investimentos estrangeiros oportunistas, com um clique de computador, saem e entram no país quando as circunstâncias os favorecem; sabem bem qual é o momento de sair, de voltar ou permanecer; sabem até onde vai a verdade e o terrorismo de mercado;não vivem da “segurança jurídica”, vivem do risco. Os autóctones florescem à sombra de governos. A âncora mais decente da economia e da direção sociopolítica de um país é o “Orçamento Público da União”. No Brasil, a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) o antecede. Quando feito com responsabilidade, espelhado em dados os mais fidedignos possíveis para chegar às estimativas de Receita e Despesa, o que está dentro dele, como fundamento de repartição, é a vontade política das forças internas da Nação, representadas por suas maiorias e minorias nos poderes da República, dentro dos limites Constitucionais que incluem: o programa de governo vencedor nas urnas, o debate público de divergências e convergências, necessidades emergentes locais ou internacionais, compromisso inarredáveis com os mais necessitados, distribuições equitativas possíveis dos recursos dentro da federação, compromissos com o futuro da nação e a consolidação de normas que possibilitem a sua fiel execução. Agora, é tudo isso que está em jogo. Quando negligenciamos, sobram: a indecência, a injustiça e a desigualdade!

Autor: Dr. Walmir de Albuquerque Barbosa Jornalista Profissional. Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas. Manaus (AM), 17/02/2023. *Toda sexta-feira publica no site EPCC suas Crônicas do cotidiano. Confira na obra "Trajetórias culturais e arranjos midiáticos" (2021) seu capítulo "Comunicação, Cultura e Informação: um certo curso de jornalismo e vozes caladas na Amazônia".

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