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  • Walmir de Albuquerque Barbosa

Crônicas do cotidiano: É Natal, a porta sublime de um Ano Novo

“Levanta-te (Jerusalém), sê radiosa, Eis a tua luz! A glória do Senhor se levanta sobre ti./Vê, a noite cobre a terra e a escuridão, os povos, mas sobre ti levanta-se o Senhor e sua glória te ilumina./As nações se encaminharão à tua luz, e os reis, ao brilho de tua aurora./ Levanta os olhos e olha a tua volta: todos se reúnem para vir a ti: teus filhos chegarão de longe, e tuas filhas são transportadas à garupa” (ISAÍAS, 60, Bíblia Sagrada). Profeta, viveu no sec. VIII a.C., Isaías é tido pelos cristãos como o quinto evangelista, pois inspira, setecentos anos antes, a vinda do Cristo Salvador, narrada no Novo Testamento. As sociedades históricas viveram sempre de esperança e as suas narrativas religiosas traduzem esse sentimento poético, tal como este que o profeta nos traz. Vamos viver a esperança, mesmo que, ainda, em meio a tanta dor.

Gosto de Isaías e por isso fui procurá-lo nessa passagem bíblica, porque ele fala de esperança, mas gosto, também, de “Calvero”, o Velho Palhaço, personagem de Charles Chaplin, em “Luzes da Ribalta” (1952), uma obra-prima da cinematografia mundial. No Profeta, a luz que alumia é a luz de Deus, um Deus que apresentava seus primeiros sinais de humanidade, mudando a face cruel do Deus “olho por olho, dente por dente”, do Velho Testamento, enfim, um Deus misericordioso. O Calvero, de Chaplin, é essa figura humana, despida de qualquer divindade, mas que acredita e pratica a compaixão, o amor desprendido pelo próximo e a humanidade perfeita; aquele que sintoniza nossos sentimentos e nossas cumplicidades na alteridade, mesmo numa sociedade corrompida pela desigualdade, ensandecida pelas perseguições ideológicas ou religiosas e sem nenhuma sensibilidade para perceber o outro, senão como objeto. O comum em ambos é a crença de que podemos nos renovar, reinventar nossas vidas, sem esperar por prêmios e sabendo o nada que somos.


Recorro ao meu saudoso e estimado poeta, professor, cronista, cinéfilo e padre Luiz Augusto Lima Ruas (1931-2000), em seu poema “Para a ‘reprise’ de Luzes da Ribalta”, fechando este ano com chave de ouro e a convicção do muito que temos a construir: “Eis que vens de novo, bom Calvero,/ Para as telas, para o mundo,/ Para os olhos, para as almas.//E foi preciso que viesses para que recomeçássemos.//Desde o início a infância nos conduz/E ela é o segredo que nos abre/ Num doce encontro sem mentiras,/As portas de todos os segredos/E deste maior que é a vida/Que é força, que é dom e que é destino.//Como vieste outrora, agora, voltas/E retomas velhos temas, sem cansaço/ Porque tudo é recomeço; nada findo./E a própria futilidade do existir/É a substância da volta interminável.//Entre o gesto, a música e a palavra/ Permaneces intocável./És a sombra que ilumina o nosso riso,/És o pranto que faz rir o nosso nada./...//Velho palhaço, antigo companheiro,/Que nos ensina a vida rudemente/De tal modo rudemente que não cremos/Seja a nossa a tua vida… e gargalhamos!//Hoje, como outrora, nós te amamos,/E se funda nosso amor nessa certeza/Do que nos ensinaste: do pranto nasce o riso;/A dor, da gargalhada; o canto, do silêncio;/ Do palhaço que morre, a dança inacabada…”


Foi um ano difícil para todos nós, mas temos que reconhecer que vencemos muitos obstáculos e, certamente, haveremos de nos desdobrar para vencermos outros que aparecerão. Para mim, em especial, batalhei muito para aprimorar o modo de tocar o coração de vocês, pisando em ovos para não ferir as sensibilidades de leitores tão qualificados que arrumei e que me acolheram com carinho, todas as sextas-feiras, respondendo, positivamente, às minhas expectativas. FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO PARA TODOS E SUAS RESPECTIVAS FAMÍLIAS!

P.S. Entraremos de férias e “Crônicas do Cotidiano” voltará no dia 27 de janeiro de 2023.

Autor: Dr. Walmir de Albuquerque Barbosa Jornalista Profissional. Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas. Manaus (AM), 23/12/2022. *Toda sexta-feira publica no site EPCC suas Crônicas do cotidiano. Confira na obra "Trajetórias culturais e arranjos midiáticos" (2021) seu capítulo "Comunicação, Cultura e Informação: um certo curso de jornalismo e vozes caladas na Amazônia".


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